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Samba que lava a alma

  • Ana Carolina Evora
  • 29 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de mai.

Por Ana Carolina Evora


Cresci com o samba sendo trilha sonora em casa. Nos jantares com amigos dos meus pais é, ainda hoje, o samba que toca. Na gaveta de CDs, ele é o estilo musical mais presente – mesmo que ninguém escute mais CD. Todo fim de semana é uma tentativa de achar um samba bom e, no momento em que meus pais diziam precisar “lavar a alma”, sempre foi o melhor. 

Sempre me vi rodeada do estilo musical e me perguntava tanto o que significava “lavar a alma” para eles. Afinal, eles não colocavam a música enquanto tomavam banho. Como podia uma música lavar a alma? Sempre quis entender de onde vinha essa expressão e qual o sentimento por trás dela. Até porque, quem não quer lavar a alma também? 

Em uma busca pela resposta, procurei saber primeiro o que encontrava sobre lavar a alma como expressão apenas e foi em um dicionário informal na Internet, que encontrei que era desabafar, falar tudo o que estava guardado. Com esse significado, entendi que vai muito além do que meus pais dizem; no caso deles, nunca escutei desabafos enquanto escutavam o samba preferido deles. Lavar a alma é algo muito mais particular. Há gente que entende a expressão como o significado que encontrei, que é desabafar; enquanto há outras pessoas que levam ao pé da letra e só lavam a alma com um bom banho ou um mergulho em cachoeira, mas ainda não era o suficiente, queria entender o sentimento que a música despertava para que pudesse ser algo tão forte para lavar a alma. 

Pesquisei na tentativa de achar a minha resposta. Encontrei diversas músicas de diferentes estilos que utilizam a expressão em suas letras, seja relacionando-a com um mergulho no mar ou em um sentido mais espiritual. Já no samba, encontrei diversas matérias de jornal que utilizam a expressão para falar sobre o estilo musical, o que parecia ser o mesmo sentimento que meus pais têm em relação ao samba. Encontrei algumas músicas que, de fato, colocam a expressão em suas letras. Elas utilizam o “lavar a alma” com o significado de enfrentar e superar adversidades, como uma renovação. 

O samba, como estilo musical, se fortaleceu em seu meio com sua tradição, resistência e renovação. O gênero que antes era visto com preconceito pela sociedade, pois é uma influência da cultura africana em nosso país, se renovou, tendo até subgêneros como o samba-enredo, o pagode, a bossa-nova, entre outros. Atualmente, além de fazer parte da cultura e da identidade do brasileiro, é reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Não é à toa que é utilizada a expressão “lavar a alma” como superar as adversidades, visto que o gênero passou por diversas delas até se tornar uma identidade para o país. 

Em meio a minha curiosidade, ainda para entender meus pais, escutei diversos sambas. Nomes como Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Alcione, Dona Ivone Lara conseguiram, nas músicas que escutei, por meio de suas vozes e instrumentais, transmitir uma certa paz. Seria esse sentimento de “lavar a alma”?

Para não restar dúvidas, perguntei para meus pais como é que um samba lava a alma. Minha mãe não demorou a responder que significa que ela sente o samba por todo seu corpo, e que, ao escutar o estilo musical, ela esquece todos os problemas e que lhe proporciona felicidade. A resposta do meu pai seguiu pelo mesmo sentimento de alegria que minha mãe mencionou: “Parece que a tristeza dá um tempo, o corpo se solta, e a gente começa a sorrir”. E eu não precisei mais perguntar, fez total sentido um estilo musical tão rico gerar tal sentimento, o de lavar a alma.


A gaveta de CDs de samba dos meus pais. | Foto: Ana Carolina Evora
A gaveta de CDs de samba dos meus pais. | Foto: Ana Carolina Evora

 
 
 

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